“Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!”: a décalage como ferramenta para compreensão de práticas corporais e alimentares
Palavras-chave:
Ciências da Nutrição, Educação Física e Treinamento, Educação superior, Relações sociais, SubjetividadeResumo
O objetivo deste texto é apresentar uma ferramenta teórico-instrumental, a décalage, que possibilita uma visão compreensiva sobre os agentes do campo da saúde. A Alimentação e Nutrição e a Educação Física são tomadas como campos científicos de formação, de práticas profissionais e de produção de conhecimentos e saberes que correspondem a dois fortes pilares na reprodução de um específico discurso eivado de normas biomédicas intensamente disseminadas na sociedade. Contudo, nem os profissionais dessas áreas, nem os estudantes dos correspondentes cursos de graduação seguem fielmente aquilo que pregam, como a alimentação saudável e a prática regular de exercícios físicos. Configura-se, assim, um espaço entre “o que se fala” e “o que se faz” em relação às práticas alimentares e corporais, frequentemente identificado como “erro a ser corrigido” na visão biomédica da vida. Distintamente, considera-se aqui a necessidade de um instrumento metodológico que auxilie na compreensão de dois aspectos da subjetividade: a ação e o discurso sobre a ação, que se complementam nas relações sociais. O ser humano convive com a décalage em suas relações sociais, com criatividade na reconstrução de significados, considerando incompatibilidades ou incongruências, sustentando uma dinâmica social na percepção de sua condição de ser humano, criando aquilo que é possível e sonhando com o que seria impossível. Sonhando o impossível, ele constrói o que é possível. Um mundo sempre novo. Talvez um mundo menos doente, se a décalage for considerada.
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