Narrativas indígenas

um caminho decolonial para compreender a memória e informação

Autores

Palavras-chave:

Autoria indígena, Decolonialidade, Epistemologia, Literatura indígena, Memória

Resumo

Este trabalho parte de um olhar crítico para as epistemologias que vigoram na Ciência da Informação para analisar como as narrativas indígenas podem contribuir para uma nova abordagem aos estudos da memória e informação. Assim, ao problematizar as estruturas e narrativas hegemônicas que fundaram a área, busca-se construir um caminho decolonial de (des)envolvimento. Primeiramente, discorremos sobre como o conceito de memória vem sendo incorporado na Ciência da Informação, para, então, fundamentar a noção de Memória Ancestral. Além de construir um referencial teórico com foco nas perspectivas indígenas, ampliando a visão sobre a temática em questão, metodologicamente foram selecionados materiais produzidos pelos povos Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng para demonstrar como a memória é compreendida por esses grupos, nos quais a oralidade desempenha um papel central nas práticas socioculturais. Como resultado, fica evidente que, ainda que atualmente, os registros dessas narrativas em suportes de informação, tais como os livros, tenham ganhado espaço e importância para essas comunidades – que os assumem como um meio de resistência e fortalecimento da memória – esses só adquirem sentido quando conectados à sua práxis. Com base nos materiais analisados, conclui-se que os sábios e sábias indígenas atuam como mediadores da informação, desempenhando um papel protagonista no processo de transmissão da sabedoria ancestral.

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Publicado

09-12-2024

Como Citar

Okawati, J. A. A., & Karpinski, C. (2024). Narrativas indígenas: um caminho decolonial para compreender a memória e informação. Transinformação, 36. Recuperado de https://puccampinas.emnuvens.com.br/transinfo/article/view/10646

Edição

Seção

Originais